Aproveitamento recorde no Braga é cartão de visitas de Artur Jorge no Botafogo

O Botafogo vai para seu terceiro técnico português sob direção de John Textor, mas com um perfil diferente. Depois de Luís Castro e Bruno Lage, com passagens pelos gigantes Porto e Benfica, a nova aposta alvinegra vem de um clube menos tradicional no cenário luso. Artur Jorge era, até esta quarta-feira, um homem de “um clube só”, o Braga, onde construiu uma passagem marcada por números históricos.

A história do futebol português mostra três forças que destoam de todo o restante, com Benfica e Sporting, da capital Lisboa, e Porto, da cidade homônima, segundo centro econômico e populacional mais importante do país. Lage fez sua carreira no primeiro, e Castro no segundo. Artur Jorge teve de construir seu trajeto em um centro alternativo, no emergente Braga, a cidade “mais brasileira” de Portugal, e que se consolidou como quarta força do país nas últimas duas décadas.

Nascido em Braga e ex-jogador com história no clube da cidade, Artur Jorge até teve experiência profissional como técnico em clubes menores, mas foi galgando degrau a degrau seu espaço na sua “casa”. Passou pela base bracarense, depois pelo time B e ascendeu ao posto principal em 2022/23. O impacto foi imediato e os números são o seu maior trunfo no curto currículo.

Na primeira temporada, o Braga encerrou com o terceiro lugar, a frente do mais tradicional Sporting. Hoje, com o campeonato ainda em disputa, o time ocupa o quarto posto. Mas o que mais surpreende é o seu aproveitamento, recorde na história da equipe. Foram 65 vitórias em 104 jogos, ou 62,5% de jogos vencidos em sua passagem. Nenhum treinador com um ano completo no clube superou esses números. Nem mesmo Leonardo Jardim, outro de passagem marcante por lá e que já esteve por diversas vezes na mira de clubes brasileiros.

As qualidades e defeitos de Artur Jorge no Braga

Boa parte do segredo do sucesso de Artur Jorge no Braga passa por conhecer bem a casa. Não foi preciso tempo de adaptação ao time bracarense, o que pode ter facilitado o técnico na busca por resultados a curto prazo. É o que nos explica Vasco Sousa, dos parceiros Playmaker e zerozero.pt.

“Artur Jorge é um homem da casa do SC Braga: é o 11º jogador com mais jogos pelo clube e já tinha passado como treinador pelas equipes B e pela base dos bracarenses. Estava, assim, inserido num ambiente que conhece bem e onde é bastante respeitado, o que certamente ajudou ao seu trabalho”, analisou Vasco Sousa.

Entre os aspectos positivos, o Braga de Artur Jorge ficou conhecido por não deixar escapar pontos em duelos em que era apontado como favorito. Por outro lado, o desempenho em jogos grandes deixou a desejar. O desequilíbrio entre ataque e defesa aparece como uma das explicações possíveis para essas “duas caras” dos bracarenses.

“Com ele no comando, o Braga mostrou-se bastante forte frente aos times menores (perdeu poucos pontos nos jogos considerados acessíveis), mas sentiu dificuldade nos principais confrontos – só ganhou um dos 10 jogos disputados no campeonato contra FC Porto, Benfica e Sporting”, explicou Vasco.

“O Braga praticou geralmente um futebol bastante atraente e ofensivo. A equipe marcou muitos gols, mostrando excelentes dinâmicas ofensivas, prova do trabalho do treinador. Por norma, optou pelo 4-4-2, por vezes sem um volante fixo, com dois meias ‘de área a área’. Apesar das virtudes ofensivas, a equipe nunca demonstrou eficácia e segurança defensiva – pareceu ser, sempre, um time que atacava bem mas defendia mal”, analisou.

Quanto a seus antecessores, a pouca experiência de Artur Jorge ainda torna a comparação difícil. O técnico já fez críticas públicas a atletas em momentos em que o resultado foi negativo, mas nunca teve atritos mais fortes com o elenco. Bruno Lage foi demitido em grande parte pela falta de química com o elenco. O jeito frontal do novo técnico não causou problemas  no Braga, e resta saber como será a adaptação no contexto alvinegro.

“Artur Jorge pareceu sempre ter uma boa relação com o elenco bracarense. Obviamente que o fato de ser uma figura importante do clube e de já conhecer alguns jogadores antes de assumir ajudou, mas deu sempre a sensação de ser um treinador que sabe liderar um grupo”, resumiu Vasco Sousa.